A Arte & O Espírito
Parece óbvio mas devo dizer: Antes de classificar algo, você deve entender sobre o que trata este algo. Ou seja, antes de classificar algo como Arte, você deve saber o que é Arte.
Arte é uma manifestação, mas uma manifestação ausente de alienação, ou seja, ausente de limite. Mas uma manifestação de que? Bom, uma manifestação fenomenológica do espírito.
O que é o espírito? Espírito é a essência da razão contida na existência dos seres e dos objetos, é aquilo que possibilita teleológicamente a existência, ou seja, é o núcleo do animus (da consciência), o espírito é a essência metafísica, a alma a estrutura e de tal estrutura Torna-se a matéria (o corpo).
Pois bem, sendo a Arte, uma manifestação (fenomenologia) pura do espírito, segundo Hegel, ela vai demonstrar o espírito se manifestando sobre a essência de cada época, a essência pode ser histórica ou idealista (transcendente/absoluta), mas como estamos falando de Arte e Arte é um processo laboral e, por tanto, envolve trabalho e , sendo assim, vamos nos ater a essência história da Arte (também chamada de fenomenologia Artística).
Sendo a fenomenologia, o processo é forma manifestação do espírito e tendo cada época uma essência fenomenológica diferente, os valores que atuam por trás da Arte serão diferentes também.
Ocorre que na Idade Antiga a Arte estava associada ao conceito filosófico de beleza que estava associada a entidade "Bem" da filosofia antiga, essa estruturação fazia com que a Arte tivesse um objetivo.
A beleza se encontrava no divino, o divino se encontrava nos seres e na natureza, ou seja, na existência que seria o meio material e a relação material/existencial mais próximo (a) do Divino (do Demiurgo/do criador), então, a Arte deveria atingir cada vez mais o sublime pois ao fazê-lo, estaria mais próxima da verdade (do espírito-racional/da Divindade).
Então existia uma cosmologia por trás da Arte que lhe dava um propósito de retratar a realidade física (hiper-realismo) e metafísica (ritualismo).
Na idade média esse valor ainda perdura, pois o cristianismo compreende a Arte com a mesma função: Levar o homem ao Divino, mas a Arte deixa de ser uma ligação direta com o divino e se torna uma ligação indireta por meio da adoração que está sim, ligaria o homem ao Divino no processo criativo – Pois para as religiões Abraamicas como o cristianismo: A divindade não está além da criação no mundo celestial, ela está junto ao mundo cósmico/celestial e junto ao mundo material, ela physys (matéria) e Metaphysys (além da matéria), isso faz com que as Artes retratem a realidade mas a realidade não como uma centelha do divino, do celestial.
Mas como um caminho para o divino (por isso os retratos bíblicos em catedrais e toda a fusão entre o homem é a divindade pela exaltação de um homem que estivesse mais próximo a divindade por honra-la; Daí os santos das catedrais e suas auréolas). (...)
Próximo ao fim da idade média, houve um forte movimento de RETOMADA , ainda que leve, de parte do conhecimento antigo, esse movimento influência tanto a política (Maquiavel), quanto a "ciência" Dianóica (Da Vinci) e Arte (Michelangelo), por isso toda aquela exaltação do homem além da crença no período renascentista, pois de acordo com o período Antigo, o que aproxima o homem da Divindade essencialmente não é a obediência mas o exercício da virtude que não é acometido pelo medo, pelo 'Ius Punienti', mas sim pelo conhecimento que justifica e compreende a função das virtudes e assim as torna essenciais e não mercantis/onerosas (um fardo).
Toda essa exaltação das virtudes (a beleza, o conhecimento, a Verdade), vai ser confundida por alguns historiadores genericamente no futuro como "antropocentrismo" (idéia de colocar o homem como centro da criação, existência e realidade), mas isso em verdade ocorre no próximo período, na modernidade, enfim, vou mencionar isto daqui a pouco mas deixo a conversa aprofundada para um outro dia...
Voltando: Com o fim da Idade média e início da Idade moderna caracteriza-se diversas revoluções infraestruturais (produtivas) que resultam em revoluções superestruturais (políticas), simplificando: As revoluções industriais na Europa influenciando a política europeia.
Essa mudança superestrutural (do pensamento social e político) era o surgimento das indústrias aliada aos interesses burgueses (dos produtores) que eram contrários aos interesses da Igreja (que era dogmática e defendida o Feudalismo como existência natural das virtudes divinas), esse afastamento do modo-de-produção feudal gerou um afastamento das instituições religiosas que logo foi suprida pelo protestantismo (que se aliou aos burgueses em seu combate ao catolicismo e inclusive bebeu e compartilhou da moral burguesa), enfim, mas isto também é assunto para outro dia...
Ocorre que com o avanço das revoluções industriais, a perspectiva cosmológica genérica (de que a natureza "controlava" o homem/ estava acima dele) foi derrubada pela perspectiva antropológica (de que o homem agora que controla a natureza e sempre pode faze-lo, só maio sabia como). Esse pensamento surge por conta da revolução científica do iluminismo e o surgimento de novas ciências como a química, a biólogoa etc...
Ok, até aqui eu mencionei os efeitos materiais e sociológicos da industrialização para chegar no ponto onde eu quero: o capitalismo quanto a filosofia, ou melhor a industrialização afetando o pensamento filosófico.
Na primeira revolução industrial as mudanças do estado das matérias, as máquinas a vapor etc, se tratavam de uma manipulação simples dos estados químicos e de mecânica básica: a água fervia para que com a pressão do valor, as máquinas funcionassem, mas dizia-se que o homem não dominava tudo pois ainda existia a energia e está pertencia ao cosmos... Pois bem, eis que surge a segunda revolução industrial e ela traz a energia elétrica!
Agora o homem dominará realmente toda a natureza, daí surge o ATEÍSMO MODERNO (a não-crença na existência do divino), também chamada de "ausência de sentido existencial" ou "niilismo". Ora, pois se o homem tudo domina, até mesmo a "energia" – Onde está Deus? É neste contexto de ceticismo, já com essa indagação que Nietzsche vive grande parte de sua vida e elabora sua teoria, tentando, dentro de suas limitações, criar uma teoria que esteja fora do divino mas que justifique a existência analiticamente.
Claro que ele não consegue, ele sofre limitações e de suas limitações ele chega num limite, esse limite é onde está a ausência de sentido, também chamada de "niilismo" (uma incompletude quanto a realidade).
Neste momento, a perspectiva HUMANA deixa de ser cosmológica (se preocupar com o divino e aproximação do homem a ele) e se volta para o antropológico (preocupação com o homem e seus cultos quanto a parte material, isto é, tradicional), logo o homem deixa de olhar rumo ao Divino e olha para si-mesmo e o que ele vê em si ainda mais ausente das virtudes? Caos! E este caos que estará retratado na Arte moderna com todas as suas deformidades, que seriam as deformidades humanas. A arte deixa de ter caráter finalístico e passa a ter caráter existencial, ela passa a relatar os dilemas da existência, da confusão humana, é claro, como o homem perde sua ligação com a virtude, sobre apenas a forma, ou seja, a potência ausente de essência, a conduta ausente de virtude, logo o homem se afasta do belo, que seria uma das virtudes e se aproxima do essencial pois o seu espírito não é uno, seu espírito agora é um espírito-alienado (daí a alienação do trabalho e dilaceração do espírito), mas isso também é assunto para outro dia, já está muito tarde e eu tenho de terminar isto aqui.
Mas os qual os efeitos na psicologia dessa transição de perspectiva do cosmológico para o antropológico na psicologia?
Pois. Bem, eu já mencionei a filosofia, a Arte, mas como fica a psicologia?
Bom, para compreender isso temos de sair do habitual, sair de Nietzsche e irmos para Carl Jung – Este foi um importante nome da psicologia que criou um conceito fundamental para a compreensão do homem moderno: "O arquétipo do herói-Deus", em Carl Jung, o arquétipo em questão se trata do homem, quando em sociedade moderna/industrial, perder suas crenças religiosas mas substituí-las essencialmente por crenças em outros elementos, como na sociedade, nos ídolos e nos homens, isto que exalta o nacionalismo e racismo do séc XX, a necessidade da superioridade do homem ausente de virtudes, algo totalmente anti-socrático, mas enfim, assunto para outro dia também...
Voltando: essa transferência de potencialidade de uma fé para uma adoração ufanista, produz uma baixa resiliência, mas ainda sim, produz alguma resiliência.
Quanto as nações contemporâneas ausentes de ídolos e crenças que não seja a crença na individualidade, as coisas pioram, pois a única coisa pior que adorar um Deus material, é adorar um Deus individual (ou seja não adorar a nada mas a si mesmo e suas possíveis conquistas), enfim? Como isso reflete na psicologia? Essa transferência potencial gera um aumento historicamente e estatisticamente comprovado das doenças psiquiátricas, como o caso de borderline, ou até mesmo algo mais comum mas tão preocupante quanto como depressão ou ansiedade, a humanidade vai ficando doente a medida que se afasta de sua ligação com ‘Wesentliche Natur’ (natureza/natureza do ser), por isso que o contato com a natureza, ainda que ausente de espiritualidade, ajuda em doenças psíquicas, mas enfim, este também seria assunto para outro dia...
Conclusão: Sendo a Arte, uma manifestação do espírito, e sendo a manifestação do espírito, alienada de seu propósito divino na contemporaneidade, a Arte se volta cada vez mais ao homem enquanto o homem se distancia cada vez mais da natureza, da virtude, e da essência, alienando a si-mesmo e deformando sua essência, e sendo a arte moderna, somente uma manifestação desta essência deformada e não um "plano político de dominação cultural" ou qualquer maluquice qualquer.
A destruição estética da contemporâneo é reflexo da destruição espiritual da modernidade.
Por fim, entendam: não é a Arte que perdeu valor, o homem que perdeu essência. A arte somente reproduz o que é nas palavras de Dostoiévski: "O homem morto" – A Arte só reflete a deformidade da sociedade doente buscando a cura em si-mesma (no indivíduo).
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